quarta-feira, 7 de julho de 2010

Reflexões sobre o fantástico...

Estou mais do que sumida desta blog, embora tenha escrito vários e vários posts... na minha cabeça, enquanto vivo todas estas mudanças intensas que vêm acontecendo nas últimas semanas. Impressões sobre a cidade grande, balanços sobre a cidade pequena, reencontros, expectativas... estou quase me convencendo que preciso de um celular com editor de texto, assim não perderia as idéias. Ou um gravador de voz (vou parecer mais maluca do que nunca, falando sozinha pela rua, hahahaha), já que a tendinite do braço esquerdo não me deixa, e o braço direito começou a reclamar também - e já bastam as muitas horas de computador no trabalho.

Bom, de qualquer forma, sem comentar os resultados da Copa do Mundo que se despede este domingo - e, agradecendo, de certa forma, que a vida tenha voltado ao curso normal alguns dias mais cedo graças ao Dunga e à CBF - li este texto do Luiz Guilherme Piva, publicado hoje no Blog do Torero, e resolvi compartilhá-lo.


O fantástico só o é se ficar na imaginação...

 

Brasil e Argentina na final? Nunca!

 Luiz Guilherme Piva

O lado bom das derrotas: não haverá a final entre Brasil e Argentina nesta Copa. E tomara que não haja em nenhuma Copa. Certas coisas devem existir somente como possibilidade. Temidas ou desejadas ao extremo, elas são muito melhores – corrijo: elas só são boas, ótimas, maravilhosas – quando pensadas: “Já imaginou se?”, “só de pensar me dá um troço esquisito”, “nunca mais o mundo será o mesmo” – e por aí. São sensações que valem dessa forma. A coisa imaginada, desejada, temida, não deve ocorrer. Porque extinguiria o que a idéia tem de supremo. Porque a realidade será muito menor do que seria quando somente imaginada.

Ganhar na loteria sozinho é um bom exemplo. Problemas com aplicações, parentes, seguranças. Prazeres vãos do consumo e da carne. E lá se vai o sabor incomparável de deitar pensando em como seria se seu bilhete fosse o único premiado. O sorriso no travesseiro antes da babinha alegre do sonho inatingível. Outro exemplo: virar o melhor jogador de futebol do mundo. Ou o cantor, ator, escritor ou cientista mais admirado e famoso do mundo. Sono pesado, de olhos fechados ou abertos, e um prazer imenso.

Exemplos de temor: a guerra aberta entre EUA e China, ou Rússia, ou Oriente. A bomba atômica de efeito global. A invasão da terra por marcianos malévolos. Choque entre planetas. A fome, a praga, a peste, o fogo – corroendo tudo. Insônia, olhos arregalados, pavor. Que nada disso aconteça é muito melhor.

Uma final de Copa do Mundo entre Brasil e Argentina está nesta categoria de coisas que não podem ocorrer. Devem ser imaginadas. Temida ou desejada, ela é muito melhor – corrijo: só é fantástica – assim: não acontecendo jamais. Se ocorrer, com sua mesquinhez de lances reais, com o fatídico resultado concreto, com as versões, teipes e discussões, tudo perderá tensão, prazer, pavor. Que joguem em amistosos, torneios, eliminatórias, que se matem e se amem em qualquer lugar – até em semi-finais de Copa, se preciso. Mas em final de Copa, não.

Devem seguir o exemplo de América e Pombense, de Rio Pomba, em Minas. Rivais mortais e fraternos, só jogaram duas vezes entre si em mais de cem anos. Uma no início e outra no final do século XX. Foram dois empates - se não me engano, sem gols. E a cidade, pequena, se agiganta de prazer e pavor imaginando o que seria se voltassem a se confrontar. Mas todos sabem que isso não deverá e não poderá ocorrer. Preferem até que haja a guerra mundial, o choque entre planetas, a fome e a peste, a cura de todas as doenças.

Estou com eles. Tudo, menos a final de Copa entre Brasil e Argentina.

[Luiz Guilherme Piva, economista, é autor dos livros "Ladrilhadores e Semeadores" (Editora 34) e "A Miséria da Economia e da Política" (Manole).]

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