sábado, 27 de fevereiro de 2010

Inferno Astral

Nunca acreditei muito nos tais dias de inferno astral, nos quais, supostamente, tudo tende a dar errado em nossos caminhos. Nos últimos anos, estes têm sido períodos de decisões e encaminhamentos decisivos para os próximos dias do ano - talvez porque coincidam com o período pós-carnaval, e este seja o momento de todo o mundo tomar providências para encaminhar os próximos 10 ou 9 meses do ano.

A verdade é que já há algum tempo, fevereiro tem sido um mês agitado para mim - para o bem. E este ano não se mostrou diferente. Mudança de casa, quem sabe de cidade, reviravolta no trabalho, novos ciclos se iniciando. Um misto de expectativa, alegria e apreensão tem tomado conta dos meus sentimentos, tornando o dia-a-dia um pouco arrastado. Sinto-me meio aérea, fazendo balanços passados, cálculos futuros, revendo planejamentos, recomeçando sonhos.

Desde sempre sou um pouco como a "menina do leite", que sonha tanto com o futuro antes de vender o primeiro litro de leite, que o derrama e tem que começar de novo. Isso me fez aprender a ser mais cautelosa, e aguardar os acontecimentos - daí o sentimento de apreensão, que tem sido maior do que o de expectativa. Assusta-me, e muito, saber que as pessoas têm expectativas a meu respeito. "A expectativa é a mãe da frustração", já me disse alguém um dia.

Enfim, novidades virão nos próximos dias. Por hora, só posso dizer que não estou conseguindo cumprir a promessa de ler um livro por semana, pois eles já estão encaixotados, hahahaha. A meta agora é encaixotar uma boa parte das coisas por semana, e aí se vai o meu tempo livre (certo, Melqui? ;-) )... A única leitura deste mês, além das palavras cruzadas, foi a biografia da Maysa - Só numa multidão de amores, de Lira Neto, que ganhei há algum tempo da Mayra e não havia lido ainda. Ainda volto aqui para falar desse furacão que é a biografia de Maysa. Ne me quitte pas...

Está um sábado lindo de sol lá fora, choveu muito nos últimos dias e eu vou voltar às minhas caixas e fitas adesivas.

O inferno são os outros.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O Sonho de Ícaro


Uma homenagem mais do que justa, meu coração vai junto com o bloco, na próxima segunda-feira.

Lucas querido, suas asas são maiores do que o samba que a gente é capaz de cantar.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Fragilidade contemporânea

Voltou a chover em Bertioga, com a graça dos céus. Foram dez dias de sol intenso, calor insano, 40º à sombra, pessoas morrendo de calor, sinal dos tempos.

Sinal dos tempos também é se dar conta da fragilidade à qual estamos expostos neste mundão. Sinal dos tempos, ou sinal de que o tempo passa e a gente se dá conta de que não é infalível, e as coisas acontecem com gente como a gente também.

Ainda estou digerindo a notícia de que uma grande amiga foi assaltada em sua própria casa. Chegou do trabalho depois do almoço, estava na sala, às 13h30, com as portas e janelas abertas, cuidando de seus afazeres. Foi surpreendida por 3 assaltantes armados, em busca de dinheiro e jóias. Amarraram seus pés e suas mãos, a amordaçaram, e, então, se deram conta que numa casa de fundos em um bairro popular não encontrariam as jóias que alguém encomendara. Mas, como não podiam perder a viagem, levaram o pouco dinheiro que ela tinha na carteira, tv, máquina fotográfica, o computador de trabalho e o carro. Ela ficou amarrada por cerca de 3 horas, até que um vizinho ouvisse seus gritos e a socorresse.

Recebi a notícia por um amigo em comum, enquanto estava no trabalho, e fiquei chocada. Comentei com colegas de sala, e o comentário imediato foi: "é, realmente é muito perigoso morar sozinha, em uma casa. É bom que você se cuide mais também."

Acho que o comentário me deixa mais chocada ainda.

Eu vivo sozinha há algum tempo. Sempre dividi casa com algum companheiro, como agora, mas sempre estou sozinha em casa - principalmente à noite. Trabalho à noite, chego tarde em casa, e assim é a vida. Recuso-me, terminantemente, a ter medo desta situação, que, aliás, demonstra minhas vitórias no mundo: sou uma mulher solteira, tenho meu emprego, economicamente independente, emocionalmente resolvida, não devo satisfação para ninguém. Uso e abuso do meu direito de ir-e-vir, e DETESTO quando me cobram por notícias, itinerários, caminhos, etc...

Por isso, fiquei pensando quanto tempo levaria até alguém dar pela minha falta caso algo me acontecesse (fico mais de uma semana sem ligar para minha mãe...). Nem sei se os vizinhos notariam algo estranho.

Termino a noite indignada, mais uma vez com os problemas sociais deste país, a violência, a ineficácia do poder público, a falta de confiança na polícia, mas também repensando os modos como me coloco no mundo, e que escolhas são essas que nos deixam mais frágeis, mais vulneráveis, mais isolados. Chamar de mal contemporâneo é simplificar demais.


sábado, 6 de fevereiro de 2010

Verão intenso demais


O calor que fez por aqui nos últimos dias é qualquer coisa assustadora. Impossível sair de casa, impossível tomar banho quente, impossível beber qualquer líquido que não esteja gelado. O ventilador - que nem é nosso - fica ligado o tempo todo. Só durmo com a janela do quarto aberta, e me peguei desejando ter ar-condicionado em casa!

Estou na janela, vendo o movimento dos turistas seguindo para a praia. Com esta lua, só turista vai à praia. Turista, e morador que trabalha para turista. Esta semana chegou a faltar coco verde nas barraquinhas da praia e nos restaurantes.

Guardassóis (é esta a grafia correta?), cadeiras, esteiras, barracas. Protetor solar e cerveja. Gente com a pele cor-de-rosa do excesso de sol de ontem, crianças de chapéu e camiseta. Estas cenas me dão preguiça do mundo lá fora.

Definitivamente, meu tempo nesta terra já venceu. Quero desejar a praia uma vez ao ano, não quero mais olhar para ela todos os dias. Quero ser turista.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Livros - promessa de ano novo

Fiz uma promessa de ano novo, daquelas que raramente nos dão prazer em cumprir.

(fiz outras, não tão saborosas, mas deixa pra lá...)

Prometi a mim mesma ler um livro por semana. São poucas as coisas no mundo que me satisfazem mais do que a companhia de um bom livro, e é irritante como a gente vai deixando de ter tempo para a leitura. Quanto tempo eu perco em navegações sem rumo pela web!

Como o mês de janeiro acabou, hora de fazer o balanço de leituras das últimas 5 semanas:

- Nunca antes na história deste país, do Marcelo Tas.
Li no primeiro dia do ano, num misto de diversão, perplexidade e tristeza. O livro é sim, divertido, na cuidadosa seleção de frases do presidente Lula, selecionadas por Tas, na diagramação bonita, no encadeamento das "profissões" do presidente. Mas não consigo morrer de rir, como muitos seguidores do @marcelotas no Twitter, principalmente sabendo que temos eleições este ano, e o quadro não é nada animador...

- Canalha!, do Fabrício Carpinejar.
Delicioso. Deliciosamente canalha... Conhecia a poesia do Carpinejar, em Cinco Marias, que me tirou o fôlego numa só manhã. Com este fui me deliciando ao longo de vários dias, um pouquinho a cada dia. Altamente recomendado.

- Yuxin, da Ana Miranda.
É a primeira vez que tomo contato com a literatura de Ana Miranda. Sinceramente, não foi um encontro feliz. Confesso que só terminei o livro porque não gosto de deixar pela metade.

- Contos Negreiros, do Marcelino Freire.
Leitura de uma noite, num só fôlego. Assunto pra pensar por muito, muito tempo. Imagens para retomar, em momento oportuno.

- O cheiro do ralo, do Lourenço Mutarelli.
Narrativa com ritmo, envolvente, divertida, imagética. Ainda não vi o filme, mas fiquei curiosa para saber como os conflitos psicológicos do narrador são resolvidos na película.

É, acho que o balanço no geral é bom. Vamos ver se o ritmo e a sede se mantém pelos próximos meses. Tô apostando na rede de trocas do Trocando Livros - cadastrei alguns lá hoje; e nos achados da Estante Virtual - tenho dois do Quintana, recém chegados, à minha espera.

Por hoje chega, que daqui a pouco é hora de levantar. Boa noite!

Blog pra quê?

Já comecei e parei, já retomei e desisti.

Blog pra quê? Escrever pra quê?

Quis ser jornalista, aos 10 anos de idade. Aos 16, resolvi ser cientista social, pra escrever "com conteúdo". Os anos na universidade bloquearam a escrita, e depois me fizeram descobrir que era preciso pensar em quem estava do outro lado, lendo.
De leitora ávida por livros, fui me tornando leitora da rede. Sou da geração que foi, aos poucos, misturando diário secreto com internet, público e privado, solidariedade e exposição.

E-mail, e-groups, blog, ning, orkut, twitter. Tá tudo aí, junto-e-misturado. E o jeito de pensar - e escrever - foi mudando.

Registrar as idéias é necessário - para não perdê-las pelo meio do caminho. Compartilhá-las - quase imperativo.

Serei constante? Duvido.

Mas vou tentar. De novo.