sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Ressonâncias

Gatilhos.
Disparos;
A gente nunca sabe de onde eles virão, quais serão os motivos.
A passagem da minha avó me tirou do eixo, e cá estou eu mergulhada na minha melancolia latente.
Preguiça da vida, das coisas, do tempo.
Vontade de virar bicho de livro, pra viver escondida no meio das folhas, em uma estante. Iniciei um 4º livro em 7 dias: dois Mia Couto, um Agualusa, e agora o Daniel Galera. Melhor companhia do que a vida aqui fora.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Vó Luiza

Ontem à noite, qdo caía uma abençoada chuva no ABC, cheia de raios e trovões, eu pensava que se minha avó estivesse por perto, mandaria cobrir os espelhos e me faria jantar com uma colher de pau, para não chegar perto de nenhum metal. Hoje de manhã, enquanto eu arrumava o café e enchia a pia pra lavar a louça gastando menos água, imaginei-a dizendo ao meu falecido avô: - Olha, Mané, essa menina agora deu pra ter costume da roça, olha a bucha e o sabão! Sorri pensando na cara de muxoxo, nas tantas caretas que ela sempre faz qdo contrariada. Torce o nariz, como ela mesma diz.

Daí meu pai me liga, e me diz que ela se foi. Mais um ciclo completado. Embora já esperasse essa notícia há algum tempo, é sempre uma triste surpresa. 


Enquanto me preparo pra viajar até Jacareí, passo os olhos na imagem de São Benedito, nas louças ganhadas e roubadas da casa dela - ô menina pra gostar de cacareco! -, na máquina de costura que é minha há quase 10 anos. Penso nos meus presépios, e nos três Reis Magos que andavam cada dia um pouquinho na lapinha coberta de palha de arroz. Relembro o que sei sobre horta, colher milho, arrancar mandioca. Fazer bolo, assar pão e montar fogaozinho com tijolo pra deixar as crianças brincarem. Criar galinha pra comer na Páscoa, e pôr todos os netos pra dormir juntos na sala, nas férias. Aparecida do Norte e os tantos santinhos que eu nem sei se creio, mas trazia de presente pra ela. No nariz torcido pra quem ela não gostava, no copão de caipirinha, nas travessuras pra baixar o diabetes e comer coisas proibidas nas festas. No orgulho de ver os netos crescidos e de qdo me disse pra nunca deixar homem me botar cabresto. Nas histórias dos maridos que ela botou pra correr, e na convivência bonita de quase 50 anos com o meu avô. 


É uma saudade enorme que vai me tomando. Saudade de bolo de fubá com erva-doce, bolinho de chuva e café com leite numa tarde perdida no tempo.


Vai em paz, vó Luiza.


postado em 14/02/2014, no Facebook.