quinta-feira, 11 de março de 2010

Deusas do Cotidiano - Sérgio Vaz

"De todos os hinos entoados em louvor às revoluções nos campos de batalhas, nenhum, por mais belo que seja, tem a força das canções de ninar cantada no colo das mães." 
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O nome dessas mulheres eu não sei, não lembro e nem preciso saber. São nomes comuns em meio a tantos outros espalhados por esse chão duro chamado Brasil.
Mas a maioria delas eu conheço bem, são donas de um mesmo destino: as miseráveis que roubam remédios para aliviar as angústias dos filhos. É quando a pobreza não é dor, é angústia também. São as ladras de Victor Hugo.
Donas da insustentável leveza do ser, as infantes guerreiras enfrentam a lei da gravidade. Permanecem de pé ante aos dragões comedores de sonhos que escondem na gravidade da lei.
Das trincheiras do ninho enfrentam moinhos de mós afiadas para protegerem a pança dos pequeninos. São as Quixotes de Miguel de Cervantes.
Místicas, não raro, estão sempre nuas em sentimentos. Quando precisam, cruas, esmolam com o corpo, e se postam à espera do punhal do prazer que cravam no seu ventre. È quando o prazer humilha. São as habitantes do inferno de Dante.
Rainhas de castelos de madeiras, sustentam os filhos como príncipes, e os protegem da fome, do frio, e da vida dura e cruel que insiste em bater na porta das mulheres de panela vazia. Quanto aos reis, também são os mesmos: os covardes dos vinhos da ira.
Mágicas, esses anjos se transformam em rochas, quando a vida pede grão de areia. Em flores quando rastejam, em espinhos quando protegem.
Essas mulheres são aquelas que limpam tapetes, mas não admitem serem pisadas.
Riscam papéis, limpam máquinas e consertam crianças que nascem com o sonho quebrado.
São domésticas, mas não admitem serem domesticadas.
E riem quando suam sob lágrimas e sangram o perfume da violeta impune estampada no rosto, que de rosa, não tem nada.
Sim, elas são as deusas do dia a dia.

Realidade com poesia, para encarar a semana.

segunda-feira, 8 de março de 2010

8 de março

Adélia Prado, Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo.  Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Pelo Dia Internacional da Mulher.

domingo, 7 de março de 2010

Em ritmo de mudança

Mais um final de semana (de folga) chuvoso que, parece, vai-se embora. Estou aqui às voltas com a minha preguiça de sair de casa e ir até a padaria, e as limitadas opções para o lanche, já que estamos em contagem regressiva para a mudança.

Desde que decidimos desfazer a república, no final do ano, venho preparando aos poucos a mudança. Limpeza no guarda-roupa, organização dos materiais da faculdade e do mestrado (aiaiaiaiai...), geral nos livros e nas revistas de coleção, geral nos meus brinquedos de coleção... Consegui, nos intervalos do dia-a-dia, arrumar uma boa parte das coisas. Até a pasta dos meus documentos, comprovantes de experiência profissional, e manuais e notas fiscais de eletrodomésticos eu arrumei como nunca antes na história dessa pessoa!!!

Com as alterações nos rumos iniciais desse "desfazimento" da república, tive que correr para comprar geladeira e fogão antes do fim do desconto do IPI - e esperar muito mais do que o previsto pela entrega -, preparar algumas coisas para ficarem guardadas por um tempo - lavei tapetes, cortinas, roupa de cama, toalhas, casacos que nunca vesti em Bertioga... 

Agora que a transferência do Nilson é uma realidade com data marcada - daqui a 7 dias -, o tempo está urgindo. Ontem meus pais estiveram aqui, levando minhas plantinhas para uma temporada em Jacareí, e o meu aparelho de som, para não correr o risco de ficar desligado ao sabor da maresia aqui. Aproveitei para dar uma geral da dispensa, e levamos uma cesta de presente para o Juara e o Emerson, que ontem inauguraram uma nova república da firma em Bertioga. Até 4ª feira temos que esvaziar a geladeira, para dar tempo de desligar, secar direitinho e embalar longe do mofo (argh!). Não vou nem contar o que ainda temos na geladeira...

Aos poucos vamos nos despedindo da cidade, das chuvas tão peculiares, do mar e dos amigos. Eu ainda fico por aqui um tempo, mas já no esquema "provisório"...  Meu desafio para os próximos dias é organizar uma mala com o mínimo de roupas, sapatos e acessórios para sobreviver no sobe-e-desce serra por pelo menos 30 dias (Aha! E quem disse que eu vou conseguir?!?) A casa está com aquela cara de bagunça, meio caótica, e, para mim, é como se um filme desses dois anos fosse se reorganizando e ganhando novos significados à medida que as caixas vão sendo empilhadas.

Expectativas, balanços, apreensão, melancolia... a gente devia se mudar de casa e de cidade com mais frequência, para poder pensar na vida mais vezes... ;-)