terça-feira, 28 de dezembro de 2010

balanços

Foi um ano de muitas mudanças. Muitas novidades. Cidade nova, casa nova, trabalho novo. Oportunidade de recomeçar, de refazer, de inventar.

Um ano longo, intenso, feliz - apesar de tudo.

Independência, acolhida, reencontros, descobertas. Encarar essa cidade enorme e dura sozinha, e descobrir em suas esquinas a doçura de se sentir em casa - mesmo que isso às vezes tenha sido à custa de lágrimas. Fazer novos amigos, e reencontrar antigos - amizades adormecidas, que só aguardavam para serem despertas. Aprofundar relações - e descobrir pessoas belas. Descobrir o amor, de uma maneira única - ainda que dolorido, e ter esperança na força do tempo.

O balanço de 2010 é bom. O ano foi ótimo.

Que venha 2011, com tudo o que tenho plantado. Eu confio na colheita.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

post script

um dia de ressaca
e não é por conta do álcool

um dia de ressaca
mas, ao contrário do mar,
que se joga contra o continente
de maneira violenta
eu recuo, e me guardo,
e fujo, e silencio

um dia de ressaca
somente mais um dia de ressaca
a boca guarda o gosto bom do ontem
o amargo do hoje
e a secura, o vazio, a fome de amanhã

inundações à vista

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

considerações noturnas

eu te amo.
isso eu já sei, você já sabe, todo o mundo sabe.
fico procurando razões, explicações, desculpas
para este hiato, que eu quero que seja temporário.

procuro por sinais na terra, nos céus, no mar.
dentro de mim, só há certezas.
de que fomos feitos um para o outro, nada mais.

encontros outros, felicidades passageiras
nada me desvia
são como a chuva passageira, que só acaricia o solo
mas não mata a sede da plantação

estou atravessando a ponte,
e você não é ela.
você é o que está no final da ponte,
a minha chegada.

meu pote de ouro no final do arcoíris.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Sobre o que é o amor - Por Carpinejar

O amor nunca morre de morte natural. Añais Nin estava certa.


Morre porque o matamos ou o deixamos morrer.

...Morre envenenado pela angústia. Morre enforcado pelo abraço. Morre esfaqueado pelas costas. Morre eletrocutado pela sinceridade. Morre atropelado pela grosseria. Morre sufocado
pela desavença.

Mortes patéticas, cruéis, sem obituário e missa de sétimo dia.

Mortes sem sangramento. Lavadas. Com os ossos e as lembranças deslocados.

O amor não morre de velhice, em paz com a cama e com a fortuna dos dedos.

Morre com um beijo dado sem ênfase. Um dia morno. Uma indiferença. Uma conversa surda. Morre porque queremos que morra. Decidimos que ele está morto. Facilitamos seu estremecimento.

O amor não poderia morrer, ele não tem fim. Nós que criamos a despedida por não suportar
sua longevidade. Por invejar que ele seja maior do que a nossa vida.

O fim do amor não será suicídio. O amor é sempre homicídio. A boca estará estranhamente carregada.

Repassei os olhos pelos meus namoros e casamentos. Permiti que o amor morresse. Eu o vi indo para o mar de noite e não socorri. Eu vi que ele poderia escorregar dos andares da memória e não apressei o corrimão. Não avisei o amor no primeiro sinal de fraqueza. No primeiro acidente. Aceitei que desmoronasse, não levantei as ruínas sobre o passado. Fui
orgulhoso e não me arrependi. Meu orgulho não salvou ninguém. O orgulho não salva, o orgulho coleciona mortos.

No mínimo, merecia ser incriminado por omissão.

Mas talvez eu tenha matado meus amores. Seja um serial killer. Perigoso, silencioso, como todos os amantes, com aparência inofensiva de balconista. Fiz da dor uma alegria quando não restava alegria.

Mato; não confesso e repito os rituais. Escondo o corpo dela em meu próprio corpo. Durmo
suando frio e disfarço que foi um pesadelo. Desfaço as pistas e suspeitas assim que termino o relacionamento. Queimo o que fui. E recomeço, com a certeza de que não houve testemunhas.

Mato porque não tolero o contraponto. A divergência. Mato porque ela conheceu meu lado escuro e estou envergonhado. Mato e mudo de personalidade, ao invés de conviver com minhas personalidades inacabadas e falhas.

Mato porque aguardava o elogio e recebia de volta a verdade.

O amor é perigoso para quem não resolveu seus problemas. O amor delata, o amor incomoda, o amor ofende, fala as coisas mais extraordinárias sem recuar. O amor é a boca suja. O amor repetirá na cozinha o que foi contado em segredo no quarto. O amor vai abrir o assoalho, o porão proibido, fazer faxina em sua casa. Colocar fora o que precisava, reintegrar ao armário o que temia rever.

O amor é sempre assassinado. Para confiarmos a nossa vida para outra pessoa, devemos saber o que fizemos antes com ela.

Fabricio Carpinejar

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Emprestando palavras pra expressar mistérios...

Tem hora que a gente não acha palavra pra dizer o que se sente... daí a gente tropeça, sem querer, em algo que outra pessoa escreveu de um jeito tão maravilhoso, como se estivesse sentindo dentro da gente mesma.

A Silva Tavano faz isso muito bem. E eu empresto este texto dela (sem pedir!) pra colocar aí embaixo...

09/11/2010


Das cismas

A cisma é uma ideia fixa que fica teimando em se provar. Muitas vezes, ela não é nada, só acha que é. Isso acontece com a cisma que é prima do pressentimento, mas gosta de se apresentar como filha da certeza. Ela também costuma ser amiga íntima da desconfiança. Quem leva esse tipo de cisma a sério acaba implicando com coisas e com pessoas sem motivo nenhum. O problema é que, de vez em quando, o motivo aparece e a cisma se confirma. Aí, ninguém segura. Cheia de razão, a danada pode resolver dar palpite o tempo todo, por puro capricho, e acaba embaçando a percepção da gente. Quem cisma demais sempre empaca, embirra e antipatiza com o que nem conhece.
Mas existe um outro tipo de cisma. Essa até pode ser alguma coisa, apesar de ela mesma nem sempre botar muita fé nisso. Também inventa ideias e impressões pra ficar cismando, insistente. Tem que prestar atenção, porque, aqui, é tudo diferente -- essa cisma é prima do desejo, filha do sonho e pode virar a melhor amiga da perseverança quando a gente decide encarar o tira-teima.    
       
(ST)   

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Sorte e Azar

Eu nunca jogo.
Nem com a Mega acumulada, loteria esportiva com resultado anunciado, jogo do bicho depois de um sonho explícito, rifa de chocolate, nada.
Sou tremendamente azarada, é sempre dinheiro perdido tempo perdido.
Sou cética, e acho que, quando há sorte, ela vem bater à porta.

Pois é, ela às vezes vem mesmo.
Bate à porta, entra, se acomoda.
Ainda desacreditando, porque era muita sorte, presente mesmo, pra uma pessoa só.
Pessoa cética.
Daí que um dia - demorou um pouquinho - cai a ficha:
- Você ganhou. Acertou o jogo todo. Sozinha.
Parece sonho.
Fazia tanto tempo que eu tinha feito essa fézinha...

Tanto tempo, rá!
Perdi o bilhete.
Não sei onde o guardei.
É como eu sempre pensei: sou azarada demais.
Até quando ganho na Mega, sozinha
Não fico com o prêmio.