quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Fragilidade contemporânea

Voltou a chover em Bertioga, com a graça dos céus. Foram dez dias de sol intenso, calor insano, 40º à sombra, pessoas morrendo de calor, sinal dos tempos.

Sinal dos tempos também é se dar conta da fragilidade à qual estamos expostos neste mundão. Sinal dos tempos, ou sinal de que o tempo passa e a gente se dá conta de que não é infalível, e as coisas acontecem com gente como a gente também.

Ainda estou digerindo a notícia de que uma grande amiga foi assaltada em sua própria casa. Chegou do trabalho depois do almoço, estava na sala, às 13h30, com as portas e janelas abertas, cuidando de seus afazeres. Foi surpreendida por 3 assaltantes armados, em busca de dinheiro e jóias. Amarraram seus pés e suas mãos, a amordaçaram, e, então, se deram conta que numa casa de fundos em um bairro popular não encontrariam as jóias que alguém encomendara. Mas, como não podiam perder a viagem, levaram o pouco dinheiro que ela tinha na carteira, tv, máquina fotográfica, o computador de trabalho e o carro. Ela ficou amarrada por cerca de 3 horas, até que um vizinho ouvisse seus gritos e a socorresse.

Recebi a notícia por um amigo em comum, enquanto estava no trabalho, e fiquei chocada. Comentei com colegas de sala, e o comentário imediato foi: "é, realmente é muito perigoso morar sozinha, em uma casa. É bom que você se cuide mais também."

Acho que o comentário me deixa mais chocada ainda.

Eu vivo sozinha há algum tempo. Sempre dividi casa com algum companheiro, como agora, mas sempre estou sozinha em casa - principalmente à noite. Trabalho à noite, chego tarde em casa, e assim é a vida. Recuso-me, terminantemente, a ter medo desta situação, que, aliás, demonstra minhas vitórias no mundo: sou uma mulher solteira, tenho meu emprego, economicamente independente, emocionalmente resolvida, não devo satisfação para ninguém. Uso e abuso do meu direito de ir-e-vir, e DETESTO quando me cobram por notícias, itinerários, caminhos, etc...

Por isso, fiquei pensando quanto tempo levaria até alguém dar pela minha falta caso algo me acontecesse (fico mais de uma semana sem ligar para minha mãe...). Nem sei se os vizinhos notariam algo estranho.

Termino a noite indignada, mais uma vez com os problemas sociais deste país, a violência, a ineficácia do poder público, a falta de confiança na polícia, mas também repensando os modos como me coloco no mundo, e que escolhas são essas que nos deixam mais frágeis, mais vulneráveis, mais isolados. Chamar de mal contemporâneo é simplificar demais.


Nenhum comentário:

Postar um comentário