quinta-feira, 6 de maio de 2010

Em processo

Este blog está abandonado, porque as mudanças e processos tem sido muitos e muito intensos, não está sobrando tempo para nada. Nem vim aqui comemorar a vitória do Santos.

(Santos Campeão Paulista 2010!!! O melhor!!! 
Viva a molecada da Vila Belmiro!!!)

Pronto. Comemorado. E chupa Luxemburgo!

Passei o final de semana em São Paulo, faxinando e dedetizando o apê por minha própria conta e risco (!!!). Graças à ajuda fundamental das queridas Ana e Tati, pude fazer em etapas e não me envenenar junto, hahaha. Limpamos os armários na sexta-feira e, surpresa: encontramos cupim em um dos armários. Se euzinha aqui já sou pouco neurótica com bichinhos, insetos e outros seres nojentos, sabendo da existência de cupins comendo o armário, quase surtei.

No sábado, lavei o chão, apliquei K-Othrine (é assim que se escreve?) no chão, rodapés, batentes, etc... Fiquei algumas horas no apê, e foi muito legal para perceber o movimento da região, me ambientar. Era sábado, primeiro de maio, feriado. O trânsito do entorno? Caos total. Show no Memorial, show de música sertaneja em outro local da Barra Funda, encontrão religioso na igreja Brasil para Cristo na quadra de casa. Era "Aleluia" de um lado e "Você diz que não me ama, você diz que não me quer"  do outro... buzinas, ruas fechadas, motorista braço... olha, muito prazer, São Paulo! A Ana levou mais de uma hora pra chegar das Perdizes em casa!!!

No domingo, fui pro apê munida de veneno para cupim, luva, máscara... apliquei nos armários (adeus, bichinhos!!!) e saí correndo para a rua, porque o cheiro é horrível!!! Fui ao supermercado e comprei, adivinha??? Veneno para barata, aquelas iscas, que tem longa duração. Daí me dei conta que estava já no processo neurose e era hora de parar, porque quando começa... sem retorno.

Pra aliviar, comprei cerveja e salgadinho para esperar o Nilson que ia passar para me pegar e descermos juntos para Santos.

Sexta-feira vou receber o caminhão de mudança. Daí pra frente, a casa começa a ter a minha cara. Não aguento mais esperar.

PS: quero comprar uma tv usada, alguma sugestão?

domingo, 11 de abril de 2010

Sobre verdades e mentiras


"...Pode a verdade estar na boca das crianças,
mas para a dizerem têm que crescer primeiro, e então
passam a mentir..."
(Memorial do Convento - José Saramago)

sábado, 10 de abril de 2010

Clariceando

"Eu queria escrever um livro. Mas onde estão as palavras? Esgotaram-se os significados. Como surdos e mudos comunicamo-nos com as mãos. Eu queria que me dessem licença para eu escrever ao som harpejado e agreste a sucata da palavra. E prescindir de ser discursivo. Assim: poluição.

Escrevo ou não escrevo?

Saber desistir. Abandonar ou não abandonar - esta é muitas vezes a questão para um jogador. A arte de abandonar não é ensinada a ninguém. E está longe de ser rara a situação angustiosa em que devo decidir se há algum sentido em prosseguir jogando. Serei capaz de abandonar novamente? Ou sou daqueles que prosseguem teimosamente esperando que aconteça alguma coisa? Como, digamos, o próprio fim do mundo? Ou seja lá o que for, como a minha morte súbita, hipótese que tornaria supérflua a minha desistência?


Eu não quero apostar corrida comigo mesmo. Um fato. O que é que se torna um fato? Devo-me interessar pelo acontecimento? Será que desço tanto a ponto de encher as páginas com informações sobre os "fatos"? Devo imaginar uma história ou dou largas à inspiração caótica? Tanta falsa inspiração. E quando vem a verdadeira e eu não tomo conhecimento dela? Será horrível demais querer se aproximar dentro de si mesmo do límpido eu? Sim, e é quando o eu passa a não existir mais, a não reivindicar nada, passa a fazer parte da árvore da vida – é isso que luto por alcançar. Esquecer-se de si mesmo e, no entanto viver tão intensamente.

Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente. Mas é um vazio terrivelmente perigoso: dele arranco sangue. Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavras que digo escondem outras - quais? Talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no poço fundo.

Meditação leve e terna sobre o nada. Escrevo quase que totalmente liberto de meu corpo. É como se este estivesse em levitação. Meu espírito está vazio por causa de tanta felicidade. Estou tendo uma liberdade íntima que só se compara a um cavalgar sem destino pelos campos afora. Estou livre de destino. Será o meu destino alcançar a liberdade? Não há não há uma ruga no meu espírito que se espraia em leves espumas. Não estou mais acossado. Isto é a graça.

Estou ouvindo música. Debussy usa as espumas do mar morrendo na areia, refluindo e fluindo. Bach é matemático. Mozart é o divino impessoal. Chopin conta a sua vida mais íntima. Schoenberg, através de seu eu, atinge o clássico eu de todo o mundo. Beethoven é a emulsão humana em tempestade procurando o divino e só o alcançando na morte. Quanto a mim, que não peço música, só chego ao limiar da palavra nova. Sem coragem de expô-la. Meu vocabulário é triste e às vezes wagneriano-polifônico-paranóico. Escrevo muito simples e muito nu. Por isso fere. Sou uma paisagem cinzenta e azul. Elevo-me na fonte seca e na luz fria.

Quero escrever esquálido e estrutural como o resultado de esquadros, compassos e agudos ângulos de estreito enigmático triângulo.

"Escrever" existe por si mesmo? Não. É apenas o reflexo de uma coisa que pergunta. Eu trabalho com o inesperado. Escrevo como escrevo sem saber como e por quê - é por fatalidade de voz. O meu timbre sou eu. Escrever é uma indagação. É assim:?

Será que estou me traindo? Será que estou desviando o curso de um rio? Tenho que ter confiança nesse rio abundante. Ou será que ponho uma barreira no curso do rio? Tento abrir as comportas, quero ver a água jorrar com ímpeto. Quero que cada frase deste livro seja um clímax.

Eu tenho que ter paciência, pois os frutos serão surpreendentes...

Este é um livro silencioso. E fala, fala baixo.

Este é um livro fresco - recém saído do nada. Ele é tocado ao piano delicada e firmemente ao piano e todas as notas são límpidas e perfeitas, umas separadas das outras. Este livro é um pombo - correio. Eu escrevo para nada e para ninguém. Se alguém me ler será por conta própria e auto-risco. Eu não faço literatura: eu apenas vivo ao correr do tempo. O resultado fatal de eu viver é o ato de escrever. Há tantos anos me perdi de vista que hesito em procurar me encontrar. Estou com medo de começar. Existir me dá às vezes tal taquicardia. Eu tenho tanto medo de ser eu. Sou tão perigoso. Me deram um nome e me alienaram de mim.

Sinto que não estou escrevendo ainda. Pressinto e quero um linguajar mais fantasioso, mais exato, com maior arroubo, fazendo espirais no ar.

Cada novo livro é uma viagem. Só que é uma viagem de olhos vendados em mares nunca dantes revelados - a mordaça nos olhos, o terror da escuridão é total. Quando sinto uma inspiração, morro de medo porque sei que de novo vou viajar e sozinho num mundo que me repele (...) As minhas limitações dão a matéria-prima a ser trabalhada enquanto não se atinge o objetivo".   
                                         
                        
Clarice Lispector, Um Sopro de Vida.

(encontrei entre os meus guardados, oferecido por uma pessoa muito querida, há alguns anos atrás)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Boneca de crochê, para esquentar um dia cinzento

Os acontecimentos conturbados dos últimos dias têm me impedido de escrever (e estão condenando este blog a uma morte lenta e dolorosa). Hoje, aproveitando o dia de folga e muita (mas muita mesmo!) chuva, limpei arquivos e caixas de e-mail, e encontrei este texto engraçadinho, que me foi enviado pela querida Simone, quando eu ainda era casada.

Bom, o casamento acabou, mas a história continua tendo seu fundo de verdade, hahaha! Aviso ao próximo maluco que se colocar no meu caminho que ele será um homem de sorte, porque eu sei fazer crochê!!!

BONECA DE CROCHÊ

Um homem e uma mulher estavam casados por mais de 60 anos. Eles tinham compartilhado tudo um com o outro. Eles tinham conversado sobre tudo. Eles não tinham segredo entre eles, afora uma caixa de sapato que a mulher guardava em cima de um armário, e tinha avisado ao marido que nunca abrisse aquela caixa e nem perguntasse o que havia nela. Assim por todos aqueles anos ele nunca nem pensou sobre o que estaria naquela caixa de sapato. Mas um dia a velhinha ficou muito doente e o médico falou que ela não sobreviveria. Visto isso, o velhinho tirou  a caixa de cima do armário e a levou pra perto da cama da mulher. Ela concordou que era a hora dele saber o que havia naquela caixa. Quando ele abriu a tal caixa, viu 2 bonecas de crochê e um pacote de dinheiro que totalizava 95 mil dólares.

 Ele perguntou a ela o que aquilo significava; ela explicou:

 - Quando nós nos casamos, minha avó me disse que o segredo de um casamento feliz é nunca argumentar/brigar por nada. E se alguma vez eu ficasse com raiva de você que eu ficasse quieta e fizesse uma boneca de crochê.

 O velhinho ficou tão emocionado que teve que conter as lágrimas enquanto pensava 'Somente 2 bonecas preciosas estavam na caixa. Ela ficou com raiva de mim somente 2 vezes por todos esses anos de vida e amor.'

 -  Querida!!! - ele falou - Você me explicou sobre as bonecas, mas e esse dinheiro todo de onde veio?

 - Ah!!! - ela disse - Esse é o dinheiro que eu fiz com a venda das bonecas.

 PRECE

Senhor, dai-me sabedoria para entender meu marido, amor para perdoá-lo e paciência para aturá-lo. Senhor, porque se eu pedir força, eu bato nele até matar,  porque eu não sei fazer crochê.  

quinta-feira, 11 de março de 2010

Deusas do Cotidiano - Sérgio Vaz

"De todos os hinos entoados em louvor às revoluções nos campos de batalhas, nenhum, por mais belo que seja, tem a força das canções de ninar cantada no colo das mães." 
.
O nome dessas mulheres eu não sei, não lembro e nem preciso saber. São nomes comuns em meio a tantos outros espalhados por esse chão duro chamado Brasil.
Mas a maioria delas eu conheço bem, são donas de um mesmo destino: as miseráveis que roubam remédios para aliviar as angústias dos filhos. É quando a pobreza não é dor, é angústia também. São as ladras de Victor Hugo.
Donas da insustentável leveza do ser, as infantes guerreiras enfrentam a lei da gravidade. Permanecem de pé ante aos dragões comedores de sonhos que escondem na gravidade da lei.
Das trincheiras do ninho enfrentam moinhos de mós afiadas para protegerem a pança dos pequeninos. São as Quixotes de Miguel de Cervantes.
Místicas, não raro, estão sempre nuas em sentimentos. Quando precisam, cruas, esmolam com o corpo, e se postam à espera do punhal do prazer que cravam no seu ventre. È quando o prazer humilha. São as habitantes do inferno de Dante.
Rainhas de castelos de madeiras, sustentam os filhos como príncipes, e os protegem da fome, do frio, e da vida dura e cruel que insiste em bater na porta das mulheres de panela vazia. Quanto aos reis, também são os mesmos: os covardes dos vinhos da ira.
Mágicas, esses anjos se transformam em rochas, quando a vida pede grão de areia. Em flores quando rastejam, em espinhos quando protegem.
Essas mulheres são aquelas que limpam tapetes, mas não admitem serem pisadas.
Riscam papéis, limpam máquinas e consertam crianças que nascem com o sonho quebrado.
São domésticas, mas não admitem serem domesticadas.
E riem quando suam sob lágrimas e sangram o perfume da violeta impune estampada no rosto, que de rosa, não tem nada.
Sim, elas são as deusas do dia a dia.

Realidade com poesia, para encarar a semana.

segunda-feira, 8 de março de 2010

8 de março

Adélia Prado, Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo.  Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Pelo Dia Internacional da Mulher.

domingo, 7 de março de 2010

Em ritmo de mudança

Mais um final de semana (de folga) chuvoso que, parece, vai-se embora. Estou aqui às voltas com a minha preguiça de sair de casa e ir até a padaria, e as limitadas opções para o lanche, já que estamos em contagem regressiva para a mudança.

Desde que decidimos desfazer a república, no final do ano, venho preparando aos poucos a mudança. Limpeza no guarda-roupa, organização dos materiais da faculdade e do mestrado (aiaiaiaiai...), geral nos livros e nas revistas de coleção, geral nos meus brinquedos de coleção... Consegui, nos intervalos do dia-a-dia, arrumar uma boa parte das coisas. Até a pasta dos meus documentos, comprovantes de experiência profissional, e manuais e notas fiscais de eletrodomésticos eu arrumei como nunca antes na história dessa pessoa!!!

Com as alterações nos rumos iniciais desse "desfazimento" da república, tive que correr para comprar geladeira e fogão antes do fim do desconto do IPI - e esperar muito mais do que o previsto pela entrega -, preparar algumas coisas para ficarem guardadas por um tempo - lavei tapetes, cortinas, roupa de cama, toalhas, casacos que nunca vesti em Bertioga... 

Agora que a transferência do Nilson é uma realidade com data marcada - daqui a 7 dias -, o tempo está urgindo. Ontem meus pais estiveram aqui, levando minhas plantinhas para uma temporada em Jacareí, e o meu aparelho de som, para não correr o risco de ficar desligado ao sabor da maresia aqui. Aproveitei para dar uma geral da dispensa, e levamos uma cesta de presente para o Juara e o Emerson, que ontem inauguraram uma nova república da firma em Bertioga. Até 4ª feira temos que esvaziar a geladeira, para dar tempo de desligar, secar direitinho e embalar longe do mofo (argh!). Não vou nem contar o que ainda temos na geladeira...

Aos poucos vamos nos despedindo da cidade, das chuvas tão peculiares, do mar e dos amigos. Eu ainda fico por aqui um tempo, mas já no esquema "provisório"...  Meu desafio para os próximos dias é organizar uma mala com o mínimo de roupas, sapatos e acessórios para sobreviver no sobe-e-desce serra por pelo menos 30 dias (Aha! E quem disse que eu vou conseguir?!?) A casa está com aquela cara de bagunça, meio caótica, e, para mim, é como se um filme desses dois anos fosse se reorganizando e ganhando novos significados à medida que as caixas vão sendo empilhadas.

Expectativas, balanços, apreensão, melancolia... a gente devia se mudar de casa e de cidade com mais frequência, para poder pensar na vida mais vezes... ;-)