quarta-feira, 23 de maio de 2012

Sinal fechado

Sábado à noite. Como se já fosse uma regra dessas que a gente não consegue quebrar, estávamos - ligeiramente - atrasados. O trânsito desta cidade louca, que não tem mais hora nem dia, quase nos fez perder o compromisso.

Entro no carro, sabendo que o meu medo nos fez atrasar ainda mais: eu poderia ter ido direto de metrô à Estação da Luz, mas não consigo andar sozinha à noite naquele trecho, e fui esperá-lo na República. No sinal vermelho, paramos o carro e daí me dou conta - um pouco tarde - que as duas janelas estão abertas. Eu tenho vergonha do medo que tenho da cidade, mas não consigo evitá-lo.

No rápido tempo do farol fechado, um morador de rua nos aborda. Já que não dá para subir o vidro, acendemos a luz interna. O rapaz faz menção de pedir algo mas, surpreso com a luz acesa, olha para dentro do carro.

- Nossa, vocês formam um casal muito bonito. Verdade mesmo, Deus que proteja!
- Obrigado.
- Vocês não tem algum aí, uma moedinha, qualquer coisa?


Procurou no console, mas não tinha nada. Tentou de novo, e encontrou uma medalhinha de Nossa Senhora, provavelmente comprada em algum outro sinal fechado. Meio sem graça, ofereceu ao moço, do lado de fora.

- Puxa, só tenho esta medalhinha aqui, nenhuma moeda... você... você quer?


O rapaz aceitou a medalhinha num misto de surpresa e gratidão. Olhou-a contra o céu, sorriu, desejou-nos boa noite e disse que aquilo era melhor do que uma moeda. O sinal abriu, seguimos em frente, e já nem nos lembramos de fechar as janelas.

As possibilidades de encontro nesta cidade maluca são tão improváveis e inusitados, que eu fico pensando que sempre, sempre posso me surpreender.

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