terça-feira, 22 de maio de 2012

A celebração do samba

Algumas experiências são difíceis de serem relatadas. A gente é tomado por tantos sentimentos, que qualquer tentativa de objetividade empobrece a experiência.

Fui assistir ao lançamento do novo cd do Quinteto em Branco e Preto no último sábado. Assistir não é a palavra correta; fui participar. Sim, participar, porque o samba, quando é bem feito, quando é verdadeiro, ele é um convite à celebração, e esta nunca é passiva.

Chegamos, eu e família, em cima da hora (só pra variar), e tivemos pouco tempo para nos acomodar, já que perdemos os lugares originalmente escolhidos, lá no burburinho. Casa cheia, ingressos esgotados, as comunidades todas presentes - delícia ver o Auditório Ibirapuera ocupado assim. Uma atmosfera de alegria e orgulho pairava no ar: todo mundo veio celebrar junto.

O recado vem logo no início, anunciando que o futuro de glória destes meninos já chegou. As músicas dão seu recado, confirmam sua filiação à tradição, reverenciando nossos ancestrais, nossas raízes. Os convidados chegam para legitimar e abençoar esta festa: o grande Sapopemba, as velhas guardas da Nenê e do Camisa Verde e Branco, seu Carlão do Peruche e Fernando Penteado, a Banda Mantiqueira.

E a festa vai esquentando, e a batucada boa, quente, marca registrada nesta história de quinze anos, vai ganhando corpo. O público, comportado em suas poltronas, finalmente se solta, e vai sambar em frente ao palco, no auge da celebração.

Saí de lá feliz, muito feliz. Pessoalmente, por conhecer de perto o trabalho e a dedicação dos meus amigos, e poder ver a colheita de tudo que foi plantado com tanto amor e carinho. Mas feliz também por reconhecer que o meu povo, a minha gente - preta, branca, da periferia, da cidade grande, do terreiro de chão batido ou do apartamento - tem mais uma razão para se orgulhar, para celebrar, e continuar cantando.

Um sambista de verdade
faz samba e não pensa em conquista
sou nascido num terreiro
em São João da Boa Vista
Na hora em que nasci
Mamãe me jogou na pista
"se cair deitado é padre,
caiu de pé é sambista"
Geraldo Filme

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