Eu me arrisco com você, talvez mais do que já tenha me arriscado com qualquer outro.
É um risco inédito. Não dá frio na barriga, não me tira o sono, não me desafia a criar uma personagem. Desafia-me a ser eu mesma. Só eu. Sem máscaras, sem fantasias. Sair da minha concha, da minha muralha, e me deixar conhecer. Abrir a porta.
O risco de viver não uma grande paixão, na sua efemeridade louca, mas de construir o amor. Construir o cotidiano, uma vida a dois, um olhar para o horizonte. O chão, os pilares, o telhado.
O tempo, na miudeza dos dias. No saber esperar, saber escutar, saber abrir mão. A coragem de ser verdadeira, e admitir minhas fraquezas e defeitos - para poder compartilhar o melhor de mim, apesar dos meus piores. Lutar contra meu egoísmo, de querer ser objeto da sua atenção com a maior importância do mundo, e lutar contra as minhas frustrações de menina mimada, quando não tem seu desejo atendido.
A miudeza de todo dia, na beleza que se aprende a olhar e sentir. No bombom que surge no meio de um dia triste chuvoso, no carinho inesperado debaixo das cobertas, na prontidão para ajudar a esvaziar o copo, mesmo com o seu igualmente cheio.
Aprender que o amor não é romântico, mas prosaico. Viver a prosa do dia-a-dia, na intenção de torná-la poesia, ainda que de pé quebrado. Poesia concreta, que se constroi pedaço a pedaço. Coloca, volta, ajusta, troca a palavra, tenta de novo.
Cansa. Re-encanta. Chora. Brilha o olho.
Eu me arrisco com você, todos os dias. Desafio-me a ser uma pessoa melhor, para que você continue a querer se arriscar comigo também. Me percebo ridícula, chata - e me envergonho. Não te alcanço, às vezes.
Eu me arrisco, e gosto disso. Gosto de poder olhar o horizonte. Gosto de saber que o chão está debaixo dos meus pés. Dos nossos pés.
Gosto de dizer "a gente".
Eu me arrisco, muito, e estou feliz por isso. Eu ainda não sei nada sobre tudo isso aí - estou aprendendo com você. Vou errar muito, muito mais do que já tenho errado.
Espero que você queira seguir neste risco também.
ser chuva é cair por aí, virar poça, barro, carregar barquinho de papel, brincar com o arco-íris... fazer a terra cheirar, ser gota que brilha na folha... cabeça cheia de idéia, às vezes tem que chover em algum lugar. o que vira? sei não.
quinta-feira, 4 de julho de 2013
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Amores possíveis
Eu não sei se acredito em amor eterno, ou alma gêmea. Em pessoas que nasceram uma para a outra, e que o destino as coloca frente a frente, em algum momento da vida.
Talvez isto seja verdade para algumas pessoas. Talvez venha a se tornar verdade para mim, em algum momento.
Eu acredito em amores possíveis. Em encontros especiais, pessoas incríveis, momentos únicos. Marcas, dobras, fissuras, ranhuras: o amor se fixa assim, no corpo, na alma, no coração da gente.
Por vezes, me pego com saudades de um amor vivido. Nem sempre a saudade é da pessoa. Parece estranho, mas é exatamente isso: a saudade é daquela pessoa, naquele momento, com o que eu era neste conjunto. Não adianta reencontrá-la. Vai ser outra história - que pode ser tão especial quanto, mas será outra.
Chega a ser engraçado, porque alguns destes amores eu reencontrei muito tempo depois - e me pareceram pessoas estranhas. Como pode, tanta intimidade se transformar em indiferença? Mistérios da vida humana.
Outros amores passaram a ser amor brando, quentinho, e ocupam lugar cativo dentro de mim; são mais do que marca. Amores despudorados, sinceros e intensos, que se transformam em carinho. Admiração, amizade, vontade de intimidade.
Ainda tenho em mim amores que são sensações de desejo, que não foram esgotadas. Não é saudade, é outra coisa. É amor com vontade, com respiração, com curiosidade. Não sei qual o nome disso. Sei que estes amores me impulsionam para a vida, para vivê-los, ou me permitir buscar novos encontros.
terça-feira, 14 de agosto de 2012
Férias 2011 - devaneios no caminho (I)
Sempre viajo com uma caderneta. Quando se viaja sozinha, é preciso ter com quem compartilhar pensamentos.
No terminal rodoviário do Tietê, enquanto aguardava o ônibus para o Rio de Janeiro, rabisquei as seguintes linhas:
"23/09/2011
Início da Primavera.
Novas férias, novos destinos, novas viagens.
Cá estou, na rodoviária do Tietê, esperando o ônibus para o Rio de Janeiro. Um bando de adolescentes atrás de mim fala do Rock'n'Rio que eu, espertamente, ignorava até ontem - dããã...
Meia hora atrás eu pensei em embarcar diretamente para BH, e ignorar esta passagem pelo Rio, mas fiz um uni-duni-tê e o Rio ganhou, Na verdade, fiquei tentada em tirar a sorte na bilheteria e embarcar sem rumo, sabe-se lá para onde. Um dia ainda faço isso...
Viajar, para mim, é sempre adentrar em outra vibe. É como se eu me despedisse do mundo, das pessoas que amo, fizesse as últimas coisas importantes, antes de seguir. Há sempre o risco de não voltar. Sigo aberta às possibilidades, aos encontros, às descobertas, ao desejo de mundo. Umas vezes mais, outras menos, mas sempre com este desejo.
Este ano não tenho o cansaço nem a ansiedade das outras vezes. Parto, antes de tudo, para um encontro comigo. Quero saber onde estou EU, que tenho por tantas vezes me desconhecido.
Parar e escutar, é esta a ideia."
No terminal rodoviário do Tietê, enquanto aguardava o ônibus para o Rio de Janeiro, rabisquei as seguintes linhas:
"23/09/2011
Início da Primavera.
Novas férias, novos destinos, novas viagens.
Cá estou, na rodoviária do Tietê, esperando o ônibus para o Rio de Janeiro. Um bando de adolescentes atrás de mim fala do Rock'n'Rio que eu, espertamente, ignorava até ontem - dããã...
Meia hora atrás eu pensei em embarcar diretamente para BH, e ignorar esta passagem pelo Rio, mas fiz um uni-duni-tê e o Rio ganhou, Na verdade, fiquei tentada em tirar a sorte na bilheteria e embarcar sem rumo, sabe-se lá para onde. Um dia ainda faço isso...
Viajar, para mim, é sempre adentrar em outra vibe. É como se eu me despedisse do mundo, das pessoas que amo, fizesse as últimas coisas importantes, antes de seguir. Há sempre o risco de não voltar. Sigo aberta às possibilidades, aos encontros, às descobertas, ao desejo de mundo. Umas vezes mais, outras menos, mas sempre com este desejo.
Este ano não tenho o cansaço nem a ansiedade das outras vezes. Parto, antes de tudo, para um encontro comigo. Quero saber onde estou EU, que tenho por tantas vezes me desconhecido.
Parar e escutar, é esta a ideia."
terça-feira, 17 de julho de 2012
O camelo e o dromedário
Os dois pequenos queriam ler um livro, daqueles que contam os porquês das coisas. Eu folheava as páginas e perguntava aos meninos o que eles achavam.
- Por que o camelo tem duas corcovas?
- Pra carregar duas pessoas!
- Não, seu bobo. (ele já lera o livro). Ele tem as corcovas pra guardar comida.
- Mas o outro do lado só tem uma.
- É que o dromedário come menos.
- Por que o camelo tem duas corcovas?
- Pra carregar duas pessoas!
- Não, seu bobo. (ele já lera o livro). Ele tem as corcovas pra guardar comida.
- Mas o outro do lado só tem uma.
- É que o dromedário come menos.
quinta-feira, 31 de maio de 2012
O chão me falta sob os pés.
Náusea, enjôo, asco.
Raiva.
Procuro por piedade e compreensão da falha humana, mas não consigo.
Essa é uma das minhas muitas falhas. Talvez alguém consiga me compreender e me absolva.
Enquanto mantenho a casca por fora, desmorono por dentro.
Ódio.
Porque o mundo é tão errado?
Porque o ser humano se multiplica a partir da fórmula errada?
Esforço-me para pensar em coisas boas, mas não consigo.
Náusea, choro, insônia.
E a constatação de que o mundo conspira a favor do erro.
Gracejo fora de hora.
Náusea, náusea, náusea.
Impotência.
Embaixo do meu nariz.
É preciso ter piedade.
Mas eu não me convenço disso.
A arrogância humana também me toma e me corrói.
Um erro justifica o outro, é sempre assim.
Náusea, enjôo, olhos marejados.
E a esperança de que uma noite de sono ao menos amenize o impacto.
Náusea, enjôo, asco.
Raiva.
Procuro por piedade e compreensão da falha humana, mas não consigo.
Essa é uma das minhas muitas falhas. Talvez alguém consiga me compreender e me absolva.
Enquanto mantenho a casca por fora, desmorono por dentro.
Ódio.
Porque o mundo é tão errado?
Porque o ser humano se multiplica a partir da fórmula errada?
Esforço-me para pensar em coisas boas, mas não consigo.
Náusea, choro, insônia.
E a constatação de que o mundo conspira a favor do erro.
Gracejo fora de hora.
Náusea, náusea, náusea.
Impotência.
Embaixo do meu nariz.
É preciso ter piedade.
Mas eu não me convenço disso.
A arrogância humana também me toma e me corrói.
Um erro justifica o outro, é sempre assim.
Náusea, enjôo, olhos marejados.
E a esperança de que uma noite de sono ao menos amenize o impacto.
quarta-feira, 23 de maio de 2012
Sinal fechado
Sábado à noite. Como se já fosse uma regra dessas que a gente não consegue quebrar, estávamos - ligeiramente - atrasados. O trânsito desta cidade louca, que não tem mais hora nem dia, quase nos fez perder o compromisso.
Entro no carro, sabendo que o meu medo nos fez atrasar ainda mais: eu poderia ter ido direto de metrô à Estação da Luz, mas não consigo andar sozinha à noite naquele trecho, e fui esperá-lo na República. No sinal vermelho, paramos o carro e daí me dou conta - um pouco tarde - que as duas janelas estão abertas. Eu tenho vergonha do medo que tenho da cidade, mas não consigo evitá-lo.
No rápido tempo do farol fechado, um morador de rua nos aborda. Já que não dá para subir o vidro, acendemos a luz interna. O rapaz faz menção de pedir algo mas, surpreso com a luz acesa, olha para dentro do carro.
- Nossa, vocês formam um casal muito bonito. Verdade mesmo, Deus que proteja!
- Obrigado.
- Vocês não tem algum aí, uma moedinha, qualquer coisa?
Procurou no console, mas não tinha nada. Tentou de novo, e encontrou uma medalhinha de Nossa Senhora, provavelmente comprada em algum outro sinal fechado. Meio sem graça, ofereceu ao moço, do lado de fora.
- Puxa, só tenho esta medalhinha aqui, nenhuma moeda... você... você quer?
O rapaz aceitou a medalhinha num misto de surpresa e gratidão. Olhou-a contra o céu, sorriu, desejou-nos boa noite e disse que aquilo era melhor do que uma moeda. O sinal abriu, seguimos em frente, e já nem nos lembramos de fechar as janelas.
As possibilidades de encontro nesta cidade maluca são tão improváveis e inusitados, que eu fico pensando que sempre, sempre posso me surpreender.
Entro no carro, sabendo que o meu medo nos fez atrasar ainda mais: eu poderia ter ido direto de metrô à Estação da Luz, mas não consigo andar sozinha à noite naquele trecho, e fui esperá-lo na República. No sinal vermelho, paramos o carro e daí me dou conta - um pouco tarde - que as duas janelas estão abertas. Eu tenho vergonha do medo que tenho da cidade, mas não consigo evitá-lo.
No rápido tempo do farol fechado, um morador de rua nos aborda. Já que não dá para subir o vidro, acendemos a luz interna. O rapaz faz menção de pedir algo mas, surpreso com a luz acesa, olha para dentro do carro.
- Nossa, vocês formam um casal muito bonito. Verdade mesmo, Deus que proteja!
- Obrigado.
- Vocês não tem algum aí, uma moedinha, qualquer coisa?
Procurou no console, mas não tinha nada. Tentou de novo, e encontrou uma medalhinha de Nossa Senhora, provavelmente comprada em algum outro sinal fechado. Meio sem graça, ofereceu ao moço, do lado de fora.
- Puxa, só tenho esta medalhinha aqui, nenhuma moeda... você... você quer?
O rapaz aceitou a medalhinha num misto de surpresa e gratidão. Olhou-a contra o céu, sorriu, desejou-nos boa noite e disse que aquilo era melhor do que uma moeda. O sinal abriu, seguimos em frente, e já nem nos lembramos de fechar as janelas.
As possibilidades de encontro nesta cidade maluca são tão improváveis e inusitados, que eu fico pensando que sempre, sempre posso me surpreender.
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