Eu me arrisco com você, talvez mais do que já tenha me arriscado com qualquer outro.
É um risco inédito. Não dá frio na barriga, não me tira o sono, não me desafia a criar uma personagem. Desafia-me a ser eu mesma. Só eu. Sem máscaras, sem fantasias. Sair da minha concha, da minha muralha, e me deixar conhecer. Abrir a porta.
O risco de viver não uma grande paixão, na sua efemeridade louca, mas de construir o amor. Construir o cotidiano, uma vida a dois, um olhar para o horizonte. O chão, os pilares, o telhado.
O tempo, na miudeza dos dias. No saber esperar, saber escutar, saber abrir mão. A coragem de ser verdadeira, e admitir minhas fraquezas e defeitos - para poder compartilhar o melhor de mim, apesar dos meus piores. Lutar contra meu egoísmo, de querer ser objeto da sua atenção com a maior importância do mundo, e lutar contra as minhas frustrações de menina mimada, quando não tem seu desejo atendido.
A miudeza de todo dia, na beleza que se aprende a olhar e sentir. No bombom que surge no meio de um dia triste chuvoso, no carinho inesperado debaixo das cobertas, na prontidão para ajudar a esvaziar o copo, mesmo com o seu igualmente cheio.
Aprender que o amor não é romântico, mas prosaico. Viver a prosa do dia-a-dia, na intenção de torná-la poesia, ainda que de pé quebrado. Poesia concreta, que se constroi pedaço a pedaço. Coloca, volta, ajusta, troca a palavra, tenta de novo.
Cansa. Re-encanta. Chora. Brilha o olho.
Eu me arrisco com você, todos os dias. Desafio-me a ser uma pessoa melhor, para que você continue a querer se arriscar comigo também. Me percebo ridícula, chata - e me envergonho. Não te alcanço, às vezes.
Eu me arrisco, e gosto disso. Gosto de poder olhar o horizonte. Gosto de saber que o chão está debaixo dos meus pés. Dos nossos pés.
Gosto de dizer "a gente".
Eu me arrisco, muito, e estou feliz por isso. Eu ainda não sei nada sobre tudo isso aí - estou aprendendo com você. Vou errar muito, muito mais do que já tenho errado.
Espero que você queira seguir neste risco também.